Avey Tare - Down There


Pra muitos, o "gênio" da banda Animal Collective é o Panda Bear, responsável por um dos discos mais importantes da década que termina, o Person Pitch, de 2007. Em seu mais importante disco solo, Noah Lennox (o Panda Bear) cria uma obra tão potente que influencia até sua própria banda a utilizar determinadas dinâmicas de composição e experimentação no àlbum mais marcante de sua história, o Merriweather Post Pavillion.

Avey Tare ficou ali "quietinho", apesar de cantar 80% das canções do Animal Collective e, aparentemente, estar à frente da composição da maior parte delas. Lançou um disco com sua esposa, Kria Brekkan, também em 2007, chamado Pullhair Rubeye. Uma enorme porcaria, segundo vários reviews de publicações de respeito. De fato, o disco é uma grande chatice. Acontece que, reza a lenda, após ter composto e gravado um álbum acústico, meio "canção de ninar", super palatável e "fiel" a seu estilo, Avey Tare e Kria decidem botar todas as faixas em reverse speed (ao contrário). Ou seja, o disco nada mais é do que um monte de sons aleatórios, que surgem da reversão das faixas. O disco na velocidade "normal" é até interessante, mas como não foi assim que foi lançado, O Pullhair Rubeye ficou como "piada interna" desinteressante e entediante, super ofuscada, aliás, pelo lançamento de 2007 da sua banda (o maravilhoso Strawberry Jam) e pelo já citado Person Pitch, do companheiro Panda Bear (considerado inclusive o melhor àlbum de 2007 na lista de 50 melhores do ano da Pitchfork).

Se em termos de "inovação" e reconhecimento de crítica Avey Tare ficou atrás do seu parceiro de banda, com o seu primeiro disco inteiramente solo, Down There, ele atesta de forma mais clara e contundente seu interesse pelo processo. Avey Tare cumpre direitinho a cartilha de Ariel Pink, ao "poluir" belas melodias com samplers, ruídos e barulhos, indesejáveis. Além disso, consegue, nas melhores faixas, como é o caso de Cemeteries e Lucky 1, fazer uma espécie de Eletro analógico, construindo batidas e climas com violões, sons de panelas e outros ruídos difíceis de se identificar. Down There é um bom disco pra quem ama Animal Collective e gosta de identificar o processo de construção estética (por vezes complexo e de caminhos bem tortuosos) dos dois principais compositores da banda. Pra quem não é tão chegado assim em AC, talvez soe estranho esse trabalho do Avey Tare. Mas uma coisa, pra mim, é certa; enquanto Panda Bear se expressa mais ou menos da mesma forma em seu trabalho solo e na banda, Avey Tare passeia por caminhos mais inusitados quando se lança nas experiências Off-Animal Collective.