Radiohead - King of Limbs


Desta vez sem essa de link pra download. Todo mundo já baixou e eu não vou perder tempo subindo no 4shared pra deletarem em menos de 2 dias. Mas acontece que eu queria, finalmente, falar de Radiohead.

Pra mim, pensar nesta banda significa remeter à mais de 10 anos atrás, lá pelos idos de 1995, quando eu ficava na frente da TV o dia todo ansioso pra ver na MTV alguns clipes que eu gostava, como Buddy Holly, do Weezer, Sabotage, dos Beastie Boys e Creep do Radiohead (o hit-indie-torturado mais legal que eu já tinha ouvido até então). Pouco tempo depois eles lançaram The Bends, que, na época, era um grande disco pra mim e pra uma pancada de gente. Algumas músicas ficaram bastante famosas (um passo à frente, talvez, em relação à Creep). Lembro como se fosse hoje da propaganda de deficientes mentais com Fake Plastic Trees na trilha. Virou uma febre. Todo mundo achava lindo, chorava, até minha mãe cantava Radiohead a plenos pulmões, achando lindo. Quando tudo caminhava para a banda se tornar a maior referência do Rock Alternativo pós-Nirvana (para quem definitivamente nunca tinha ouvido rock alternativo antes), eles lançam Ok Computer. É difícil falar desse disco tanto tempo depois, mas eu lembro vividamente que, na época, à medida em que Radiohead ia desagradando alguns fãs antigos e outros tantos críticos deslumbrados com a veia pop-torturada-alternativa dos discos anteriores da banda, os fãs achavam aquilo, cada vez mais, o máximo. Era um disco que refletia certas paranóias e angústias do fim dos anos 90. Bug do milênio, colapso da sociedade do consumo, estranhamento diante de uma nova lógica de estabelecer relações sociais e por aí vai.

O disco acabou virando um ícone dessa geração que começava a compartilhar álbuns inteiros pela internet e a usar ferramentas como ICQ, e-mails e chats como verdadeiras redes sociais, antes mesmo da consolidação de sites como Facebook. Nem sei ao certo porque o Ok Computer foi tão marcante neste sentido (seria necessário um texto só sobre isso) mas, se musicalmente o àlbum era uma guinada para a banda (apesar de não ter inventado a roda como alguns entusiastas afirmam até hoje), no contexto geral era, no mínimo, um divisor de águas. Não tinha tanto a ver com aquele indie que ouvíamos (de bandas como Pavement, Guided By Voices etc), ao mesmo tempo não era, definitivamente, Mainstream, como a banda estava caminhando pra se tornar. Era um rumo diferente, que separava Radiohead de qualquer outra banda e estabelecia um legado próprio (e arriscado, diga-se).

Aí veio o Kid A, três anos depois. Era a resposta da banda ao sucesso de crítica avassalador do àlbum anterior, flertando com o eletrônico e, novamente, desagradando uma multidão de pessoas que queriam ouvir uma banda "de verdade", como a que compôs e gravou Ok Computer. Acontece que Kid A era, pra mim, a maior e melhor guinada de todas da banda. Um disco impecável, que antecipou, e muito, uma noção bem característica dos anos 00, de utilizar samplers em loop, experimentar novas lógicas de composição e por aí vai. O que veio depois, da parte de outras bandas contemporâneas, pode ter superado imensamente esse ímpeto "experimental" do Kid A, mas eu não tenho medo de afirmar que o disco ainda é, pra mim, a definitiva legitimação criativa do Radiohead.

Os anos que se passaram ajudaram a tirar a banda um pouco dos holofotes, até porquê, estamos vivendo uma época em que a diluição quase completa da noção existente até os anos 90 de Mainstream (capitaneada pela decadência das gravadoras e de suas lógicas de mercado) dificulta a criação de "cânones", "referências" ou bandas que se tornam, mesmo sem querer "porta-vozes" de gerações inteiras. E é aí que Radiohead entra, pois eles se tornaram uma referência indiscutível para muita gente. Parte da crítica tem medo de "aposentar" os caras, acreditando que não existe novidade ou sopro criativo que se compare à trajetória de "quebra de paradigmas" do Radiohead.

Exageros.

Eu acho que, olhando pra trás e pensando o conjunto da obra dos caras, é a propria banda que se impôs constantemente essa responsabilidade de se rescrever, e tem falhado miseravelmente nos últimos anos (ou será que só eu percebo os maneirismos e padrões nas melodias do thom yorke?). Os anos 00 tem mostrado, com bandas como Animal Collective, que é possivel construir uma obra ao mesmo tempo inquieta, experimental e orgânica, sem a necessidade de guinadas radicais de sonoridade. A evolucao de seu som soa mais natural e gradativa, moldando-se quase que calculadamente, àlbum a àlbum.

Radiohead deu o "azar" de ser uma das ultimas bandas a se sentirem pressionadas a se reinventar, devido à aclamação crítica ou até mesmo a anseios artísticos específicos. Mas já estamos em outra epoca, e a critica vem se desarticulando e se diluindo, da mesma forma que os publicos se segmentam cada vez mais. Segmentam-se a tal ponto, aliás, que fica difícil associar bandas como Radiohead e Animal Collective como sendo fetiches do mesmo tipo de platéia.
Talvez nao haja mais necessidade de prestar conta pra
ninguém

King Of Limbs é, pra mim, assim como In Rainbows, um bom àlbum de uma banda importante. Só que, apesar de buscar uma negação constante de sonoridades anteriores, existe uma identidade que perpassa todas essas reviravoltas, e trás de novo os pés à terra, como quem diz: "se liga, isso é Radiohead!". "Um disco de 8 faixas que flerta com coisas como Krautrock? Legal, mas se liga, é Radiohead". Quem nutre a responsabilidade de se negar permanentemente, corre o risco de se auto-afirmar demais.