Ariel Pink`s Hauted Graffitti



Eu acho muito engraçado que todos os reviews da Pitchfork sobre os àlbuns de Ariel Pink`s Haunted Graffiti anteriores ao Before Today (com o perdão da ironia) tenham se concentrado mais na questão da mística gerada em torno do Ariel do que nas músicas em si, afirmando textualmente que as melodias eram muito boas, mas que o próprio "artista lo-fi" e toda a mística que o cerca deixavam as músicas em segundo plano. Mas ora, se as músicas eram boas, a gravação em 8-track e a "aura" de quase-gênio/quase-anônimo "adotado" pelos caras do Animal Collective no seu selo, Paw Tracks, eram apenas um detalhe, certo? Pra mim sim...e pra Pitchfork?

Bom, foda-se. eu ouvi todos os àlbuns do Ariel Pink anteriores ao Before Today e (surpresa!) achei todos inusitados e pouco agradáveis, com grandes melodias e grandes canções perdidas em meio a experimentações e samplers nem sempre bem vindos. Os discos são chatos e difíceis, algumas músicas se arrastam muito e algumas coisas não tem a menor coerência mesmo. Mas vai melhorando, até chegar ao penúltimo album, o Scared Famous, que é muito bom. Não que o Ariel quisesse mesclar Daniel Johnston com pop de rádio dos anos 70 e 80 porque isso era legal, ou ofuscar o seu "fetiche pop" com a produção lo-fi auto-centrada (como em alguns momentos sugerem os reviews da Pitchfork). Os "filtros" desse "estilo" (pop de rádio mesmo, tipo coletânea Antena 1 FM, ou o que a P4K chama de AM radio fetish) estão ali porque, simplesmente, e o Before Today veio comprovar, Ariel compõe pop de rádio. Se era lo-fi por opção e agora ele foi pro estúdio e gravou bonitinho, não é isso que justifica, talvez, o fato desse disco novo ser uma porrada no estômago. Isso se dá, simplesmente, porque o Before Today é uma coleção de 12 faixas, ou melhor, de 12 hits absolutos, grudentos e retrô, sem nenhuma cerimônia. As faixas vão se alternando entre referências do melhor e do pior que eu já ouvi dessas décadas; dá pra tirar daí Elvis Costello, Supertramp ruim, Joy Division e um monte de outras coisas (a maioria ruim) que a gente ouviu em algum momento da vida. Tudo com aquela estética de rádio tipo Antena 1. Nem é preciso viajar muito pra encontrar umas linhas de baixo ou de sintetizador de coisas muito pop mesmo, tipo, sei lá, Michael Jackson ou Cindy Lauper.

Aí fica a pergunta: se as músicas nos àlbuns anteriores já eram boas, porquê só agora, na minha opinião e na de muita gente, o Ariel finalmente fez um disco genial? Talvez seja porque, quando cai a mística do artista/autista lo-fi, se expõe o que ele realmente têm a oferecer, que é um verdadeiro artista/autista, que simplesmente sabe compor músicas pop com arranjos de outras décadas sem se importar nem um pouco com as comparações e referências que serão listadas a partir da sua obra. Não era o lo-fi que "atrapalhava" o Ariel Pink, mas o Ariel Pink que atrapalhava o lo-fi (ou melhor, a imagem que a crítica especializada tem de lo-fi). Quer dizer, não dá pra comparar Ariel Pink com Guided by Voices, ou mesmo Daniel Johnston. Gravar precariamente não significa soar precário, no sentido do it yourself ou indie-punk da coisa. Os arranjos dos albuns anteriores já mostravam um artista buscando sonoridades nem um pouco típicas daquilo que geralmente se associa a uma "estética lo-fi". Além disso, no Before Today as canções são mais diretas, mais simples, pessoais e intimistas mesmo (com a ironia de que, geralmente, é nas gravações "lo-fi" que as coisas costumam ser mais pessoais e intimistas).

Ariel parece estar alheio a qualquer tipo de tendência ou característica do pop/rock atual. Suas músicas tem roupagens anacrônicas e, paradoxalmente, atemporais. Realmente não importa aqui produção, orçamento, selo grande, pequeno ou caseiro, qualidade de show ao vivo, presença de palco e blablabla. Quem ouve Ariel Pink pode até se identificar pela afetividade dos arranjos, mas certamente, independente deles, vai ficar assobiando as canções desse Before Today por um bom tempo. Grandes canções sempre superam suas roupagens. Portanto, prefiro digerir o pastiche, aceitá-lo, e curtir Ariel Pink`s Haunted Graffitti.

Ainda estou ouvindo todos os albuns com calma, mas me parece que o melhor mesmo, além do Before Today, é o anterior, Scared Famous. Os outros têm coisas boas, mas são bem mais difíceis (são 5 principais, na ordem: The Doldrums, Worn Copy, House Arrest, Scared Famous, Before Today). Tô postando um torrent pra baixar todos esses albuns da banda, inclusive uns EPs e um CD-R obscuro que, sinceramente, ainda não ouvi. E, abaixo da capinha, o disco novo, Before Today (vou comentando mais sobre o cara no meu twitter e facebook):